Uma nova leva de herdeiras jovens, ricas e descoladas abre seu primeiro negócio e pretende ditar moda na cidade
Menina rica, linda e jovem abre loja descolada nos Jardins. Assim foi com estilistas e empresárias que já estão virando ícones, como Natalie Klein, herdeira das Casas Bahia que abriu a NK Store, e Paula Raia e Fernanda de Goeye, da Raia de Goeye. Agora, a cidade vive novo boom de moças charmosas que armam as araras e se lançam no mundo da moda.
Formada em rádio e TV na Faap, Fabiana Justus, 23, filha do publicitário Roberto Justus, conseguiu um "paitrocínio" e inaugurou, há duas semanas, a Pop Up Store, na rua Oscar Freire. A jovem, que estudou "a vida inteira" na Graded School, escola americana do Morumbi, em SP, explica que a grife tem o conceito "fast fashion" e que "é dividida em "corners": "groupie", "boho", "chic", "lovely'". Traduzindo: a marca tem o conceito de troca rápida de coleções a preços baixos e as roupas estão divididas nos espaços "fã de rock", "hippie sofisticado", "chique" e "romântico".
"Eu era aquela criança mandona e cresci com essa postura", diz ela, explicando por que optou por um negócio próprio. "Ver meu pai também me inspirou." Ela e as três sócias prometeram pagar o empréstimo (feito a juros "baixíssimos", segundo Justus) em três anos. Justus só conheceu a loja na véspera da inauguração. "É óbvio que o nome e o exemplo dele ajudaram. Mas não aguento essa coisa clichê, esse tipo de preconceito: "filha de fulano abre loja com amiga". Isso aqui não é para eu me divertir."
A publicitária Joanna Trabulsi, 28, e a estilista Adriana Caruso, 23, fugiram do "inglês, francês, alemão" para dar nome a sua loja, a Jo/Dri, inaugurada há duas semanas na rua Peixoto Gomide. "A gente vai vender no Nordeste e como a pessoa vai falar uma marca com um nome complicado? Estamos no Brasil", diz.
Para abrir o negócio, Dri, formada em moda no Studio Berçot, na França, e ex-funcionária da Ungaro, vendeu o Porsche "que minha mãe me deu quando eu estava no penúltimo ano da faculdade, em Paris". Jo juntou a herança que recebeu com a morte de seu pai e as economias dos anos trabalhados na Daslu e na Dior. E consultaram um numerólogo, ""just in case" [só para garantir], embora a gente não acredite", diz ela.
Nas araras da loja, estão vestidos de seda, renda e cetim, quase todos acima do joelho -a exceção é um longo de babados (R$ 1.120), bom "para ir a um brunch", segundo Jo. "As peças piloto [desenhadas por Adriana] são feitas no meu corpo. Se não gostei, se engorda, mudamos", diz Jo. Criadora da coleção, Dri diz ter estilo clássico. "Uso mais grifes estrangeiras como Saint Laurent, Lanvin, e 90% das minhas bolsas são Hermès, só mudo a cor. E sapatos, só Louboutin." Jo se diz "trendy-contemporânea". No dia da entrevista, avisou que "não estava arrumada": vestia calça jeans, regata, tamancos Dior, relógio Rolex, bolsa Chanel. E muitas joias.
Elas não temem que a marca seja associada a um estilo "socialite". "É até bom. Agrega", diz Adriana. "A mãe da Dri, que só usa terninho Armani, botou nosso vestido e adorou, sabe?", diz Jo. "E eu trabalho desde os 17 anos, não tem nada de socialite. Sou paulistana, conheço todo mundo desde pequena."
Marcella, 17, e Luciana Tranchesi, 20, filhas de Eliana Tranchesi, da Daslu, também conhecem "todo mundo" em SP, clientela que pretendem atrair para a 284, loja de moda jovem que abriram na rua Oscar Freire em sociedade com o irmão, Bernardino, 24, e Helena Bordon, 23, filha de Donata Meirelles, ex-braço direito de Eliana.
"Uma vez minha mãe e a Dô [Donata] estavam fazendo um pedido no showroom do Dolce [&Gabbana] e falaram: "Cadê as meninas?" A Helena estava segurando a roupa, eu estava tirando foto e a Luciana fazendo o pedido. Eu tinha sete anos", diz Marcella, que está no 2º colegial na Faap -onde Luciana faz publicidade, "o que se aplica porque você aprende a vender até a mãe, se quiser", diz ela. De minissaia, regata e salto da marca, mais bolsa Chanel (grife que "adoram", ao lado de Balenciaga, Jimmy Choo e Daslu), as irmãs dizem que o fato de Eliana ter sido presa em março e condenada a 94 anos de prisão as ensinou a "encarar os problemas, tudo de maneira positiva, a não abaixar [a cabeça] e falar f...", diz Luciana.
Luiza Setubal, 26, também conta com o "apoio emocional" da família para tocar a sua Lool - The Non Stop Store, multimarcas de acessórios. "Mas comecei com o meu dinheiro", avisa a jovem, neta de Olavo e filha de Olavo Setubal Jr., do Itaú. "Não sou rebelde e não é que eu queira parecer "low profile", "sussa" [sossegada]. Mas gosto de ser reconhecida pelo meu trabalho." Como as demais novas donas de loja, ela também estudou comunicação na Faap. Trabalhou com marketing e foi produtora da "Vogue". Em maio, lançou sua "pop-up store", ou loja temporária, em um trailer, num estacionamento na rua da Consolação. Agora, está no shopping Iguatemi, onde fica até janeiro. "O marketing está em tudo", diz. "No visual, na distribuição dos produtos. Minhas vendedoras têm identidades diferentes: uma é japonesa, uma é loira, uma é morena de olho azul."
Luiza não gosta de "nada delicado, fofo, meigo". Chama a atenção em sua mão um anel grande, de ouro, com caveiras pretas -presente dos pais, Nádia e Olavo. Seu estilo, que mistura salto alto e camiseta "podrinha", é "moderno e não é óbvio", na sua definição. "Gosto de coisas diferentes. Se escolher [bolsa] Chanel, vou comprar uma roxa", diz.
Reportagem
LÍGIA MESQUITA
Postagens
